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O tempo-presente da Diáspora negra

texto escrito por Flávio Gomes

Doutor em História pela Unicamp, professor da UFRJ

Engana-se o leitor que acreditar que DO SAMBA AO FUNK DO JORJÃO -- Ritmos, mitos e ledos enganos no enredo de um Samba chamado Brasil é um livro somente sobre música. É muito mais. O Spirito é outro. Descemos (ou subimos) as ladeiras da história/histórias dos Brasis, seu interior, cidades, encontros e desencontros de sons, silêncios, vozes roucas, compassos e gingas.

 

Spirito Santo é um dos mais criativos pesquisadores da cultura brasileira, aquela da diáspora e suas dimensões crioulas. Não ficou em laboratórios e nunca preocupado com explicações fáceis – e seus essencialismos -- e de enredos românticos. Seu andamento foi pesquisa-experimentação-erudição. Conferiu bibliografia clássica, aquela acadêmica, a literatura e os registros da memória. Foi ouvir os velhos e os jovens. Uma acuidade atenta às várias perspectivas teóricas e metodológicas.

 

Suas jornadas já tem longa data, iniciada nos anos 70. Aqui ou acolá emergiam vozes, sons e ritmos. Experimentava muitos. Inventava outros tantos. Não fabricava só instrumentos. Mas fundamentalmente sentidos-sons. Procurava autorias, transformações, permanências e personagens.

 

Spirito Santo fez escola com uma metodologia própria de pensar/criar/executar ritmos alinhando percursos diaspóricos e suas entranças atlânticas. 

Sua persistência lhe garantiu um acervo extraordinário com entrevistas, discos, partituras e gravações desde os anos 70 com músicos, artistas, instrumentistas e personagens da musicalidade negra.

O Vissungo – conjunto criado por ele – produziu uma original trilha sonora para uma geração negra que aliou protesto, mobilização política e vontade de conhecer incontáveis afro-brasis, pertos ou distantes. O silêncio sobre este som soa estrondoso para a história do tempo-presente da diáspora, com a centralidade no Rio de Janeiro.

 

Spirito foi também solo e acompanhamento da sua trajetória. É reconhecido por muitos como um dos mais destacados intelectuais da sua geração. Parte da qual esquecida, posto não submissa. Não esperou aplausos e pedidos de bis, mas foi à luta. Considerado estudioso brilhante que juntou pesquisa, erudição, inquietude e criatividade nos oferece uma viagem sonora única para entender o Brasil. O de ontem e o de hoje.

 

É possível localizar nela – entre outras coisas – outras faces e fases do atlântico negro e das identidades culturais na melhor tradição analítica de Stuart Hall a Paul Gilroy. Desfilam partituras, cosmogramas, caxambus, jongos e congadas. Reencontramos heróis anônimos da sua própria história. Somos conduzidos tanto a passeios pelas Minas Gerais e seus ritmos como convidados a invadir morros e seus ruídos. Caramba, aumenta o volume!

Carlos Palombini, musicólogo da UFMG no prefácio desta segunda edição:

"...Do samba ao funk do Jorjão tem como pressuposto tácito a crítica ideológica. Spirito Santo esteve no centro dos acontecimentos, seja no Black Rio dos anos 1970 seja no júri do desfile das escolas de samba do grupo especial em 1997, um e outro sujeitos aos dispositivos punitivos que lhes são peculiares.

E porque exilou-se na Áustria entre um e outro, conviveu com mecanismos diversos e tem ciência da perversidade de um racismo tão introjetado que é capaz de imbuir a própria insurreição de ímpetos auto-supressivos, para tolhê-la na raiz.

Cabe a ele portanto inserir a cultura musical afro-brasileira no painel das culturas da diáspora africana. Pesquisador de Funk Carioca, só posso ser-lhe grato."

Sobre o autor

Spirito Santo

O som africano de muitas diásporas

texto escrito por Samuel Mello Araújo

Diretor do Laboratório de Etnomusicologia da Escola de Música da UFRJ

Há que se perceber, antes de tudo, a combinação de gingado e erudição desse espírito inquieto, mal disfarçado em sobrenome plácido e fala mansa. Sem isso, compreende-se o argumento, mas não a moldura de Do Samba ao Funk do percurso transatlântico, envolvendo África, Europa e Américas, procede criteriosamente entre registros de séculos passados e depoimentos tomados em tempo real, perscrutando as possíveis trajetórias das múltiplas práticas musicais africanas em sua diáspora infinda.

É marcado por um radicalismo corajoso ainda em demanda à nossa volta, simultaneamente politizado e refratário ao racismo “cordial”, renitente e demolidor de reduções mistificadoras e pseudomilitantes da experiência africana no Brasil, e apoiado em pesquisa histórica e etnográfica consistente, realizada, diga-se de passagem, fora da academia, mas com ela dialogando de modo independente e criativo.

 

Passa assim em revista a aventura do jongo, do Samba, dos ranchos carnavalescos e outros instrumentos de afirmação da negritude em solo brasileiro, em sua assimilação crítica e seletiva de influências variadas, como o bolero, o jazz e o funk — ao inverso do clamado por visões puristas, que, como bem observa Spirito Santo, muitas vezes não são ingênuas e travestem formas ainda mais sutis de racismo, indicando, mais do que impondo aos oprimidos, os limites de sua própria libertação.

Ressalte-se, por fim, a oportunidade dessa publicação em meio à discussão, a carecer de aprofundamento, sobre o conceito de patrimônio imaterial, das políticas a ele relacionadas e suas consequências para os povos e comunidades por elas afetadas.

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"Do "Samba ao Funk do Jorjáo" Pode ser comprado também

na EDITORA e LIVRARIA FOLHA SECA - Rua do Ouvidor, 37- Centro Rio de Janeiro.

Comentários sobre o livro!

"Do samba ao funk do Jorjão tem como pressuposto tácito a crítica ideológica. Spirito Santo esteve no centro dos acontecimentos, seja no Black Rio dos anos 1970 seja no júri do desfile das escolas de samba do grupo especial em 1997, um e outro sujeitos aos dispositivos punitivos que lhes são peculiares... cabe a ele portanto inserir a cultura musical afro-brasileira no painel das culturas da diáspora africana."
"Do Samba ao Funk do Jorjão fazendo um percurso transatlântico, envolvendo África, Europa e Américas, procede criteriosamente entre registros de séculos passados e depoimentos tomados em tempo real, perscrutando as possíveis trajetórias das múltiplas práticas musicais africanas em sua diáspora infinda."

Samuel Araújo

musicólogo da UFMG

Carlos Palombini

"O mais instigante e criativo trabalho que eu conheço sobre as sonoridades da diáspora no Brasil. Vai muito além da música e parte dos sons para traçar uma leitura original dos dilemas brasileiros. Pra quem me pede indicação bibliografica sobre o samba, fica a dica: Do samba ao funk do Jorjão, do Spirito Santo, é incontornável. Não conheço nada melhor sobre o assunto. Tem na Folha Seca: Rua do Ouvidor, 37."

Diretor do Laboratório de Etnomusicologia da UFRJ

Luis Antonio Simas

Jornalista  e escritor 

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(21) 2443-4200/ (21) 9696-83971

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